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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Jovem americano constrói escola no sul do Sudão

INTERNACIONAL

Publicado em 05 de maio de 2010

 
Valentino Achak Deng obteve recursos iniciais com livro sobre sua história.
Escola vai receber gratuitamente os melhores estudantes do país.


O sul do Sudão é um dos lugares mais pobres do mundo. Esta afastada cidade não tem energia elétrica nem água encanada, e está a 240km da rua pavimentada mais próxima. Mesmo assim, graças a um notável jovem americano que cresceu aqui – e aos leitores que os apoiaram – a cidade se tornou um ímã para jovens sudaneses que sonham com uma educação.

Vindos de lugares a centenas de quilômetros de distância, meninos e meninas chegam aqui na esperança de serem aceitos numa nova escola em tempo integral. É uma ideia que saiu da mente de Valentino Achak Deng, cuja fuga da guerra e da fome é relatada no livro campeão de vendas “What Is the What”, de Dave Eggers.

Valentino foi separado de sua família durante a guerra civil no Sudão e passou sua infância esquivando-se de soldados, minas terrestres, leões e outros perigos. Ele aprendeu a ler e escrever rabiscando letras no chão empoeirado de um campo de refugiados. Em 2001, ele foi aceito nos Estados Unidos como refugiado. Valentino conseguiu passar pela universidade – e então ficou determinado a devolver o que aprendeu.

“Muitas pessoas confiaram em mim, me apoiaram, por isso senti uma responsabilidade especial”, disse ele. “Queria mostrar que havia um motivo para eu sobreviver”.

Dave e Valentino canalizaram os lucros do livro para iniciar a escola. Agora, a instituição está selecionando alunos para o segundo ano acadêmico. Mais de mil pessoas, entre eles adultos cujos estudos foram adiados pela guerra, estão competindo por 150 vagas para a nona série.
Conheço e admiro Valentino há anos e escrevi sobre sua escola em dezembro do ano passado, o que levou a US$ 400 mil em contribuições de leitores. Então, decidi visitar o local e ver o que as doações tinham conquistado.
Eggers 
O livro de Dave Eggers 'What is the What', que conta a história de Valentino Achack Deng (Foto: Tony Cenicola/New York Times)
Valentino contratou professores de primeira, construiu novos prédios e ergueu dois dormitórios para as meninas (pelo menos metade dos alunos serão meninas). Na noite em que passei naquela cabana com teto de palha – alojamento dos professores – um caminhão chegou com as camas e os colchões dos dormitórios, adquiridos em Uganda. Quase nada se pode comprar ali na região.
Vinte e cinco meninas vão dormir num quarto, mas os dormitórios vão expandir enormemente as oportunidades educacionais das jovens daqui. No ano passado, em todo o sul do Sudão, apenas onze meninas fizeram exames de graduação do ensino médio, segundo estatísticas do governo.
Uma das estatísticas mais dolorosas do sul do Sudão é a seguinte: com base em dados oficiais, uma menina tem muito mais chances de acabar morrendo de parto do que completar a educação primária.

O resultado é que essa única escola, que atende a alunos de todo o sul do Sudão, irá expandir consideravelmente o número de meninas que se formam na escola secundária.

A escola é gratuita, a única esperança para alunos brilhantes que não têm dinheiro para pagar pela instrução, mas os próprios alunos se encarregam da limpeza e da manutenção. Os contatos de Valentino ajudam a trazer professores voluntários americanos no verão; eles aguentam banhos de balde, latrinas e um calor infernal, mas ganham a lealdade incondicional dos alunos.

O resto da equipe também é pouco comum. O cozinheiro, Achol Mayol Juach, foi seqüestrado por mercadores de escravos em 1986, quando tinha sete anos, e escravizado no norte por quase duas décadas antes de escapar com a ajuda de um agente humanitário da Christian Solidarity International.

Valentino quer que a escola seja multi-étnica, incluindo estudantes árabes muçulmanos associados a tribos do norte que arruinaram o sul durante a guerra civil. Ele tem estudantes envolvidos em projetos sociais, como a construção de cabanas para desalojados, e está focado em nutrir líderes que possam construir um país mais pacífico e próspero.

Operar uma escola numa área tão remota é um desafio incrível. Os computadores são alimentados por geradores ou energia solar. Autoridades do governo insistem para que Valentino aceite seus filhos na escola, mas ele explica delicadamente que a aceitação só depende das notas dos exames de admissão (ele só dá preferência a um grupo específico: órfãos).

Doações recentes permitiram que a escola construísse uma biblioteca, carente de livros.
Valentino considerou a possibilidade de despachar livros para o Quênia e depois trazê-los de caminhão, mas descobriu que teria de pagar impostos proibitivos sobre importação.
A escola não é uma solução para os problemas do Sudão. A instituição só irá educar uma proporção mínima dos jovens sudaneses que anseiam por um futuro melhor. Mas é um estímulo enorme numa terra tão cheia de problemas. E é um lembrete de que às vezes os lugares mais desesperados e desolados do mundo são os mais cheios de nobreza e esperança.
Do G1

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